Uma prática comum no Brasil é a da sobrevida dos modelos depois da chegada do sucessor. O carro novo e moderno ocupa o lugar desejado, enquanto o antigo se barateia para continuar em linha como opção inferior. A linha Gol “bolinha” já precisava sair de cena há tempos; para isso veio a linha Fox, que já deixou o novo Gol no setor de base. Mas o que dizer da Parati, que não ganhou geração nova, vê a SpaceFox lhe roubar cada vez mais vendas, e não fica barata?
A versão Surf é herdeira “espiritual” de Crossover, Track&Field e outras séries especiais que a Parati recebia nos tempos de outrora. Ela não chega a ser um produto horrível, mas se já apresenta vários pontos fracos ao analisá-la sozinha, o que dirá comparando-a com rivais como Palio Weekend e 207 SW? Ela virou um típico modelo depenado para reduzir custos, com o agravante de que pedir R$ 45.770 não lhe deixa apelar ao custo/benefício. O que não dá para entender é a VW continuar usando o slogan “A station mais jovem do país” quando a Parati decaiu ao ponto de literalmente ser a perua mais antiga em venda por aqui atualmente.
Suas mudanças em relação ao modelo comum são quase todas estéticas. Por fora temos faróis de máscara negra com unidades de milha e longo alcance, lanternas fumê, molduras nas caixas de roda, simulação de estribos nas soleiras de portas e porta-malas, rodas de liga em cinza e os adesivos da série. A cabine até surpreende pela quantidade de apliques prata: depois do chamativo volante temos console central, molduras dos botões dos vidros elétricos, saídas de ar, maçanetas, alavanca de câmbio e painel de instrumentos. Pelo menos se conseguiu evitar a sensação de que a cabine ficou quase intacta como na maioria das séries desse tipo.
Mas isso não consegue disfarçar o peso da sua idade: conservar a essência mecânica do projeto inicial de 1980 lhe dá um espaço interno escasso e ergonomia sofrível, para o qual colaboram a arcaica instalação longitudinal do motor e falhas de projeto como volante e pedais desalinhados cada um para um lado em relação ao banco do motorista. Como se isso não fosse suficiente, no último face-lift, de 2005, a VW quis ganhar na produção em escala e lhe deu um painel inspirado no Fox… um projeto de duas décadas depois. Ou seja, o carro ficou simplesmente perdido; se antigamente era referência na mente do brasileiro, hoje vaga pelos anos completamente à deriva.
Os igualmente antigos motores AP ainda sobrevivem na Parati: o 1.6 gera 101/103 cv com gasolina/álcool, mas por R$ podemos ter o mesmo modelo com motor 1.8. São motores com força suficiente para levar o modelo em cidade e estrada com desenvoltura, mas às custas de vibrações excessivas e um consumo que não preza pelo comedimento. Seu pacote de equipamentos inclui todo o conjunto visual, ar-condicionado e direção hidráulica. Bem que a lista de série poderia incorporar sistema de som, airbag, alarme e trio elétrico sem alterar o preço. Só assim esse modelo conseguiria fazer algum sentido.
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